Em termos históricos, o período que vai de 2008 (início da crise financeira) até ao presente é insignificante em termos de extensão temporal. No entanto, quem vive os anseios e problemas do dia a dia não consegue deixar de pensar que é “o fim do mundo”. Proponho uma visão mais positiva, relativizando precisamente a mescla de provações e aflições que a muitos atormenta. Pensemos no que é possível fazer hoje, amanhã e depois de amanhã para que o futuro a médio prazo seja mais brilhante.
Veja o que de positivo podem trazer as crises nas sociedades.
a) As transições podem ser dolorosas, mas levando-nos por vezes aos limites conduzem-nos, mesmo que inadvertidamente, a um grau de autoconhecimento recompensador para o próprio e para os que o rodeiam;
b) Os períodos difíceis levam a alguma depuração positiva do tecido económico, isto é, excluem quem não cria verdadeira riqueza e mais-valia para a sociedade;
c) As crises puxam pela imaginação para criar oceanos azuis, isto é, novas formas de abordar o mercado ou modelos de negócio disruptivos;
d) As provações tornam-nos mais pró-ativos e ginasticam a nossa resiliência. “Para ganhar o mesmo, eu agora sei que tenho de trabalhar mais”, dizia-me recentemente uma micro-empresária;
e) A responsabilização de quem nos governa aumenta porque os cidadãos são impelidos a reclamar direitos e protestar contra injustiças. As recentes manifestações em Portugal mostram que vale a pena a mobilização. A cidadania não tinha morrido, estava apenas adormecida.
f) As portas que se fecham para muitos levam à procura incessante sem fronteiras. O mundo é a nossa casa. O desemprego no país de origem de cada um é uma maleita social, mas as nossas capacidades e competências são puxadas ao limite quando é preciso olhar para um mercado sem fronteiras.
Esta reflexão termina com um apelo que muito tem a ver com a minha formação religiosa cristã, católica, característica pessoal que não tenho problema em afirmar numa sociedade onde a procura da realização pessoal é a prioridade. Ser ateu ou agnóstico não é um sacrilégio, não me interpretem mal A questão passa mais pela capacidade de desenvolver a nossa espiritualidade numa perspetiva menos fechada sobre nós próprios.
Basta ler um livro como o “UAUme!”, de João Catalão (não se trata de uma obra religiosa mas sim de motivação e coaching), para perceber que a procura da felicidade individual passa também pela gratuitidade (expressão frequente do autor) da nossa ação. Sermos capazes de procurar a realização pessoal ajudando terceiros é uma característica fundamental para viver em equilíbrio espiritual, nomeadamente numa altura em que a tendência é o enfoque na privação daquilo que é material.
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