quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Descobrindo Madrid – Parte I: Estação de Atocha


A principal estação de comboios madrilena emana beleza. Por ali passam milhares de pessoas todos os dias, provenientes das 15 linhas suburbanas e regionais a que dá ligação, mas também da rede de metro da capital espanhola que passa por baixo de si. Ali cruzam-se visitantes de toda o género: estudantes a caminho da escola e da universidade, executivos “bem vestidos” em trânsito para reuniões de trabalho, turistas de mapa na mão à procura dos seus destinos e muitos madrilenos no diário trajeto entre a sua casa e o emprego. 

Ninguém fica indiferente à Estação de Atocha, uma estrutura de ferro e vidro inaugurada em 1851 por Alberto de Palacio, colaborador de Gustave Eiffel, o mentor das pontes D. Luiz I e Maria Pia, no Porto, e da mítica Torre Eiffel, em Paris. À primeira vista, é difícil acreditar que estamos numa estação de comboios. Mais parece um bem cuidado jardim botânico. Na verdade, o átrio desta estação, onde outrora ficava o terminal principal, foi transformado pelo arquiteto espanhol Rafael Moneo, na década de 80, num jardim tropical com mais de 500 espécies vegetais e animais, entre as quais se destacam as imponentes palmeiras. É um mini éden, onde a flora verdejante se alimenta da luz que brota pelos enormes vidros do edifício e está acompanhada das tradicionais lojas, restaurantes, cafés e até de uma pequena livraria ambulante onde se podem encontrar belos negócios literários. 

É um local surpreendente, para guardar na caixinha de recordações. Desperta sentimentos de admiração e não é por acaso que muitos transeuntes ali aproveitam para tirar fotografias, descansar e contemplar a natureza num dos bancos ou esplanadas envolventes. No entanto, este mesmo lugar está intimamente marcado pelo sofrimento. O dia 11 de Março de 2004 ficará para sempre na memória dos madrilenos, data em que esta estação foi palco de um trágico e cruel atentado terrorista que culminou na morte de 191 pessoas e em mais de 1.800 feridos, o maior atentado sofrido pela Espanha em toda a sua história (ver dossier elaborado pelo jornal El Mundo). 

A Estação de Atocha mudou. Os madrilenos sentem que está diferente. Agora todos os passageiros têm de colocar os seus pertences numa máquina de raio-x. A segurança é mais apertada. Tudo é alvo de atenção e suspeita. As feridas continuam a sarar lentamente. Mas da mesma forma que o jardim da estação continua a florescer, Madrid e os seus habitantes também se estão levantar deste abanão. No último piso do edifício, encontra-se agora um belo monumento de homenagem às vítimas do atentado. A sala escura, que pode ser visitada por toda a gente, possui um buraco no teto, iluminado pela luz solar (a mesma que alimenta as plantas do átrio), onde se podem ler mensagens e orações escritas em várias línguas, correspondentes às nacionalidades de todas vítimas do 11 de Março. 

Visitar Madrid ganha outra cor se contar com uma passagem por Atocha. Para lá da sua beleza natural, é um local de aprendizagem e reflexão. Mostra-nos através da história que o Homem é capaz do melhor, mas também do pior. Diz-nos que podemos e devemos apreciar a vida. E estando no centro da azáfama de uma capital europeia, revela-nos que o conforto pode muito bem estar nas coisas mais simples.


Um paraíso no meio da confusão.









Bruno Amorim

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