Uma senhora do Alentejo submeteu-se, hoje e em direto, ao polígrafo da TVI. Sim, é verdade. Ela garantia que não tinha roubado os tachos de cobre da vizinha. Nem o fogão dessa mesma vizinha. E muito menos o almofariz. É preferível que ponham o Paulo Futre em tudo o que é canal televisivo, revistas, jornais e rádios. Pelo menos faz-nos rir. É caso para dizer: volta Paulo, estás perdoado sócio!
Foi com o olhar atento da apresentadora Fátima Lopes e sua audiência do programa "A Tarde é Sua", nos momentos em que não era proferido um exaustivo número telefónico mágico para o qual se devia ligar para ganhar 10 mil euros, que um “professor” com pronúncia espanhola, um grande “especialista” destas andanças e com uma relação tu lá tu cá com o polígrafo, confirmou e ditou, que nem um juiz, a sua sentença: a senhora não roubou os tachos de cobre da vizinha. Nem o fogão da vizinha. E muito menos o almofariz da vizinha.
Compreendo a luta pela audiência. Entendo a necessidade de se obterem resultados que se traduzam em share. Sei que o mercado publicitário está a viver sérios desafios e que a televisão, paulatinamente, tem perdido força porque os telespetadores vão-se dispersando nas plataformas.
A realidade é que, ao final da tarde, há bastantes pessoas em casa a ver televisão e que, a todo o custo, para além do aliciamento com dinheiro fácil, é imperioso “congelá-las” em frente a esta “máquina da verdade”, como lhe chamam, levianamente, os responsáveis do programa. A máquina, a título de exemplo, já motivou a ida de pessoas à TVI para provar que não traíram a namorada; não fizeram bruxarias; nem sequer roubaram a patroa.
Mas esta história do polígrafo e da senhora que, supostamente, não roubou os tachos de cobre da vizinha, está longe de ser a tábua de salvação na luta pelas audiências. É uma questão de tempo. E de moda. Porque depois vem a verdade e tudo se descobre.
Há uns meses, uma senhora britânica aparecia no mesmo canal a contactar com os mortos. Anne Germain comunicava com os entes queridos, que já tinham partido, não de uma senhora qualquer do Alentejo ou do interior do país, mas sim de figuras mediáticas portuguesas. A audiência da TVI aumentou. Porém, com o tempo o programa deixou de impressionar.
A vidente saiu do ecrã português. Foi pregar a outra freguesia, desta feita para o país vizinho, fazer o mesmo num programa televisivo espanhol no canal Telecinco. Um jornalista do El Mundo foi investigar a senhora. O seu passado e presente. Descobriu que ali, tal como aqui, era tudo uma farsa: a produção entregava um dossier exaustivo, em inglês, sobre o passado dos convidados, que incluía informações sobre os seus antepassados falecidos e pagava, à vidente, uma pipa de massa.
Em Portugal houve pouco eco dessa investigação jornalística, que pode ler aqui e aqui, cuja gravidade vai para além das responsabilidades de Anne Germain e abraça, ou deve abraçar, a produção do programa e da estação televisiva em si.
A pseudo vidente foi embora, agora veio o espanhol com o polígrafo, depois há-de vir outra coisa qualquer. Mas pode ser que, até lá, quem está em casa veja uns desenhos animados divertidos, uma série televisiva que faça descontrair, um programa que enriqueça os seus conhecimentos ou então aproveite para dar uma voltinha a pé. Mal por mal, que venha o Futre.
Marta Araújo
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