quarta-feira, 15 de maio de 2013

As duas faces de uma imprensa em fase de transformação

Menos jornalistas e mais produtos editoriais. A ideia parece um contrasenso, mas ilustra uma tendência que se começa a verificar em alguns países. Aqui ao lado, em Espanha, o jornal El Mundo decidiu lançar uma nova revista dedicada ao tema do luxo, na mesma altura em que anunciou o despedimento de 30% da sua redação em Barcelona. Novos tempos.

Chama-se "Luxury & Quality"e promete atuar como uma "caixa de sonhos" para aqueles que têm como requisito "a exclusividade e o luxo". A nova revista do El Mundo propõe-se falar sobre diamantes, locais paradisíacos, festas privadas, viagens dispendiosas, marcas de luxo e manjares de peso (para a carteira, entenda-se). 

O caricato deste lançamento é mesmo o timing do mesmo. Numa altura em que a crise económica, tal como cá, faz estragos em Espanha, o jornal El Mundo tem vindo, desde o último ano, a reduzir em cerca 30% o universo de 600 colaboradores que possuía. A última vaga de despedimentos deu-se há dias na filial do jornal em Barcelona, onde cinco jornalistas (que representam um terço da redação) ficaram sem emprego. Os trabalhadores da redação catalã iniciaram mesmo uma greve de dois dias para mostrar a sua insatisfação com a administração do jornal.

Este parece ser um novo padrão de jornalismo. Menos jornalistas e mais produtos editoriais no mercado. Publicações mais especializadas, com tiragens mais baixas e sobretudo direcionadas a públicos que ainda possuem algum poder de compra.

Além disso, este cenário torna-se propício à entrada de publicidade encoberta, mascarada sobre a forma de informação. É que as receitas publicitárias estão em permanente queda nos últimos anos. No primeiro trimestre de 2013, no país vizinho, os diários El País (-35%), ABC (-22%) e El Mundo (-22%) registaram grandes quebras.

O mercado publicitário das edições impressas vai ser redimensionado. Um estudo norte-americano, do Pew Research Center, indica que o investimento em publicidade na imprensa, naquele país, caiu de 35 mil milhões de euros para menos de 15 mil milhões no espaço de 10 anos. E é bom referir que a publicidade digital não cobriu, nem de perto nem de longe, as perdas da imprensa, crescendo de 931 milhões de euros para 2,5 mil milhões.

Alguns jornais começam agora a apostar em conteúdos pagos e exclusivos na Internet para tentar enfrentar a quebra de receitas nas edições impressas. Essa é uma estratégia que meios como Record, Público ou Jornal de Negócios já fazem em Portugal.

No nosso país, a circulação dos diários generalistas nacionais registou uma quebra de 10% nos primeiros dois meses de 2013. E as receitas publicitárias da imprensa portuguesa também seguem a tendência internacional, tendo caído dos 223,7 milhões de euros em 2001 para 94,4 milhões em 2012, números que dificultam a sobrevivência das empresas de media e manutenção dos seus trabalhadores.

Mesmo com despedimentos e rescisões amigáveis, o mercado português não deixa de ter novidades a aparecer. A mais recente foi o Jornal Sénior, publicação quinzenal de 48 páginas e edição de 20 mil exemplares, que é dirigida por Mário Zambujal. Um jornal "à antiga, em papel, e sem tecnologias".

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