Os telejornais emitidos pelos canais generalistas portugueses, embora diferentes nas opções editoriais, têm uma característica em comum: são espaços de longa duração. Os números vêm confirmar isso. Um estudo da Marktest revela que os serviços regulares de informação de RTP1, RTP2, SIC e TVI, em sinal aberto, emitiram cerca de 89 mil notícias durante 2012. Ao todo, foram mais de 2.835 horas de informação, o que corresponde a uma média, por canal, de 1 hora e 56 minutos de conteúdos diários.
Entre janeiro e dezembro de 2012, contabilizaram-se 88.781 notícias nos programas Jornal da Tarde, TeleJornal e Portugal em Directo (RTP1), Jornal 2 (RTP2), Primeiro Jornal e Jornal da Noite (SIC), Jornal Nacional e Jornal da Uma (TVI). Em conjunto, estes espaços informativos exibiram perto de 250 notícias por dia. E tal como em anos anteriores, o número de notícias (4,6%) e o tempo de duração das mesmas (3,1%) aumentou em relação a 2011.
A pergunta que se coloca é: são os portugueses que gostam de telejornais ou, por seu lado, as televisões é que impõem tamanha produção noticiosa? A resposta será híbrida. Hoje em dia, os telejornais transformaram-se num produto televisivo que, para além de informar, assume a função de entreter o telespetador e conquistar audiências. Não é por acaso que estes espaços antecedem os horários nobres e servem de âncora para segurar as pessoas para programas seguintes.
Numa sociedade em que o tempo é escasso e a informação gira a toda a velocidade, a televisão surge como um meio fácil e barato para os cidadãos se manterem atualizados sobre o que se passa no país e no mundo. É o meio das massas. O formador de opinião, mesmo que apenas exiba um pequeno fragmento da realidade em cada notícia.
Enquanto as vendas de jornais e revistas caem (e dificilmente voltarão aos valores de outros tempos), a rádio batalha pela sobrevivência e a internet vai aumentando o número de utilizadores, num contexto que está a alterar a estrutura do mercado publicitário, a televisão continua a concentrar a preferência dos portugueses. Os horários das 13h e das 20h são momentos sagrados, mas nem sempre cumprem o dever de informar.
De que vale exibir imensas notícias, e o telespetador não ficar devidamente informado sobre as mesmas? Em média, cada peça televisiva teve duração inferior a dois minutos, tempo insuficiente para que se possa criar um conhecimento aprofundado sobre determinado assunto. E é com esta informação fragmentada que diariamente vivemos.
A análise da Marktest refere que a RTP1 foi o canal com maior quota em número de notícias (32%) e em duração (33%), o equivalente a 28.251 notícias e 931 horas de emissão. Na RTP2 passaram 7.285 notícias (8% do total) com uma duração total de 218 horas (8%). A SIC emitiu 25.639 peças (29%) de mais de 853 horas de duração (30%), tendo a TVI emitido 832 horas de informação regular (29%) repartidas por 27.251 matérias (31%).
Noutra perspetiva, não deixa de ser curioso em Agosto, altura a que os jornalistas costumam apelidar de “silly season”, época do ano em que as notícias são quase inexistentes, tenha sido o mês de 2012 com maior nível de produção noticiosa na televisão portuguesa, com um total de 7.995 peças e mais de 251 horas de emissão. É o que vulgarmente se chama de “encher chouriços”.
Mesmo que a notícia não exista, há grelhas de programação para preencher e notícias para repetir. Um telejornal longo é sempre melhor do que um breve noticiário. Voltam os mesmos assuntos de sempre, repetem-se as entrevistas do costume e aparecem os comentadores habituais a falar de temas menores. Por seu lado, o consumidor passivo, que é o telespetador, limita-se a receber o que lhe dão. Ou talvez não... O consumidor tem o poder de decidir e mudar de canal. Tal como já acontece nas redes sociais, sabe procurar a informação que lhe é mais útil e quer estar perto do seu processo de produção. Quem não perceber isto, um dia acabará surpreendido com as suas audiências.
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